Primeiro doente
Ninguém esquece o primeiro paciente. Talvez o nome nos fuja da memória, e talvez o diagnóstico e os sintomas sejam já uma névoa na nossa mente, mas há pequenos detalhes que não nos escapam.
Relembro o receio que senti nesse dia. Receava descobrir que Medicina não era para mim, ou de simplesmente bloquear e ser incapaz de falar com a senhora à minha frente. Relembro ainda o olhar triste e ansioso da doente, que entre respirações ofegantes colaborava com tanta atenciosidade. Fui incapaz de não me imaginar na sua posição: sozinha, nas urgências, com um diagnóstico difícil e um desconforto sem tréguas.
Apesar de tudo, sinto que evolui muito desde essa colheita. Há mais experiência, técnicas, empatia. Infelizmente, todos os doentes com quem contactei eram doentes oncológicos, o que tornou a minha reação a esse diagnóstico menos abrupta. Além disso, exame físico já não me deixa tão insegura, e as perguntas sensíveis são já parte da rotina.
Ainda mais importante, todo este contacto com os doentes fez-me ter a certeza que é realmente isto que quero fazer para o resto da minha vida.