O primeiro contacto com doentes
Há várias razões pelas quais se escolhe o curso de medicina, da mesma forma que há várias saídas profissionais: nem todos temos de terminar o curso e enveredar por uma via clínica. Mas a razão principal pela qual decidi escolher este caminho foi o meu amor e o meu interesse por pessoas. Aliás, tinha tanta certeza desse meu interesse que entrei na faculdade com a ideia de escolher no final a especialidade de Psiquiatria. Assim, devem entender o meu entusiasmo quando descobri que este ano iriamos finalmente lidar com pacientes: íamos deixar as salas de aulas e trocá-las por enfermarias.
É claro que no começo tive algum receio. No fundo, estava a ser avaliada, e todo o meu discurso se tinha de limitar às perguntas escritas no guião. Porém, rapidamente aprendemos a ter alguma autonomia, e a humanizar a entrevista clínica para deixar o paciente o mais confortável possível.
Já me deparei com pacientes mais e menos colaborantes, mas em todos encontrei uma necessidade de escapar da realidade da sua doença. Todos adoram falar da sua juventude, dos filhos, dos netos, dos vários trabalhos que durante a sua vida desempenharam. E é bom saber que, durante um momento, somos uma companhia que os distrai da solidão da sua cama.
Se por vezes me questiono se todo este esforço vale a pena, é nos corredores do hospital que encontro motivação para continuar.