É altura de virar a página e respirar de alívio. Este ano foi desafiante de várias formas: pela sua dificuldade; pelos problemas pessoais com os quais tive que lidar; pela necessidade de priorizar a saúde mental e colocar as notas e o curso em segundo lugar. Tive os meus primeiros chumbos, os meus primeiros recursos, e não foi nada fácil! Houve momentos em que pensei que talvez este curso não fosse para mim, em que cogitei desistir. É muito frustrante saber que não pude dar todo o meu potencial, especialmente num ano já tão complicado, mas nada acontece por acaso, e aprendi várias lições! Posso afirmar que não sou a mesma pessoa que era setembro.
Apesar disto, vivi momentos fantásticos, ao lado de pessoas que amo e que tornam a vida muito mais bonita. O apoio das minhas amigas, do meu namorado, da minha família, foi essencial! Este ano decidi arriscar mais, experimentar mais, viver a vida com mais intensidade e com menos receios.
Aprendi que devemos ser a nossa maior prioridade. Que uma nota não define aquilo que somos. Que a vida dá voltas, e que um mau momento não nos define. Que o que levamos connosco são as experiências e as pessoas! Que não há nada de errado em pedir ajuda. Que por vezes temos de parar e refletir, por muito que isso afete outros campos da nossa vida. Que tudo se resolve, de uma maneira ou outra.
Talvez pareça inacreditável, mas foi nesta época de exames que chumbei pela primeira vez a uma cadeira. Por duas décimas. Como não ficar frustrada?
Primeiro chorei. E chorei bastante! Parecia que o mundo tinha acabado, ou que estava para acabar. Sentia-me subitamente desmotivada com o curso, e deixei o cansaço de todo o ano falar mais alto. De repente a minha organização do estudo teria de mudar completamente, para ter tempo de estudar para o recurso. Teria de voltar a rever as centenas de páginas de conteúdo; memorizar novamente todos aqueles fármacos, com nomes incrivelmente parecidos. Teria de assumir que tinha falhado pela primeira vez, e para alguém que dá dicas de como ter boas notas no Instagram, foi algo até irónico!
Permitir-me sentir todas estas emoções foi libertador. É normal sentir tristeza, frustração, desmotivação, e não devemos reprimir estes sentimentos! Depois de passar pelas 5 fases do luto em 2 horas, arregacei as mangas e segui em frente. Tinha um recurso para provar o meu valor. Não era a primeira pessoa a chumbar a farmacologia, nem seria a última!
A vida tem destes desafios. Mas deverá um pequeno contratempo nos deitar a baixo? Nunca!
Queria fazer um texto bonito sobre o quão difícil a vida pode ser, e sobre aquilo que podemos aprender com as adversidades, mas não consegui. Escrevi, apaguei, voltei a escrever, voltei a apagar. Não há nada de bonito no sofrimento. Nem tem de haver.
Este último ano foi o transbordar de um copo cheio: cheio de traumas, medos, crenças infundadas, inseguranças. E quando o copo transborda, não podemos culpar apenas a gota de água, mas sim todo o conteúdo esquecido, deixado por tratar. E é infelizmente apenas quando o copo transborda que nos preocupamos em resolver aquilo que durante tanto tempo deixamos para trás. Não, o tempo não cura tudo. Acreditar nisso foi o meu maior erro. O tempo apenas permite que o trauma crie raízes e abrace o nosso futuro.
Sem o transbordar o copo, não estaria como estou neste momento. Permaneceria a pessoa assustada, pequena, pessimista, que durante toda a minha vida fui. E por isso, por muito difícil que tenha sido este último ano, não podia estar mais grata por tudo o que aconteceu.
Se estão na dúvida, este é o vosso sinal: procurem ajuda.